Viver em festa
Ser contra uma determinada moral ou estar fora dela não é ser imoral. Atacar com saúde os crepúsculos de uma classe dominante não é de modo algum ser pouco sério, O sarcasmo, a cólera e até o distúrbio são necessidades de ação e dignas operações de limpeza, principalmente nas eras de caos, quando a vasa sobe, a subliteratura trona e os poderes infernais se apossam do mundo em clamor. (Oswald de Andrade - "Meu Testamento")
Quer saber mais sobre mim? Vem cá, clica aqui.
- Prof. Ricardinho Sales - Safra 1978. Sou muitas coisas nesta vida. E pretendo ser muito mais. Página dedicada a tantos poucos que manjam a loucura que me faz, porque só quem é sabe qual é.
- Nativo de Mococa, a Macondo da Mogiana (não sabe onde fica Macondo? Leia "Cem anos de solidão" que você descobre)
- "Amar e mudar as coisas me interessa mais" (Belchior)
terça-feira, 25 de março de 2014
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
A queda da árvore
fera
portava-se segura
dura
ao mesmo tempo flexível
incrível
agora sem saída
caída
com suas raízes
matrizes
Bela
que era
florescia
aparecia
sem
consciência
opulência
Nada nobre fora
e noves fora
nada tinha
do
mogno a rigidez
do
cedro a beleza
do
ébano a cor
do baobá a grandeza
de ipê a nitidez
do flamboyant a força
da jabuticabeira o flexível
nunca dera flores
e frutos nunca vieram
Solitária
Sábia
Silenciosa
me deitei em sua sombra
belo dia
subi em sua galhada
uma vez
e vi de cima o que ela via
compartilhamos a vista
e me trouxe cheiro de infância
Nunca quis nada
e presa ao chão,
foi presa dos sem-noção
Nunca buscou sair
do seu lugar
em lugar disso, buscava o
céu
e
não por vontade
mas por instinto
sentia o chamado das nuvens
a puxá-la e negar Newton
e fez de si
si mesma
e fora isso
nunca fora lembrada
agora
esquecida
caída
no fim de tudo
lhe resta virar adubo
não por querer
mas por sobrar
como
destino
31/01/10
03:37:23
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
dos eternos
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eterno é o tudo
entediado pelo vazio do nada
dissolvente decorrente
que se esvazia no cerne da matéria
eterno é o quase
quantificado pela tentativa frustrada
obstante absolutamente
eterno é o onde
simplesmente representado no fio da meada
figurando sintomaticamente
em matemática exata adversa sincera
eterno é o mundo
que se inunda cria copia em ilusões desenfreadas
feras necessariamente
para o bem-viver em meio à merda
eterno é o qualquer
quer qual seja a moléstia a ser tratada
sem cura aparente
no pare procure o puro antes da queda
eterna é a esperança
utopia de tentar o melhor do que não se tem
indo além
da fuga fugaz nos aditivos da noite e do dia
eterna é a busca
da vida e sobrevida da razão aguerrida
em toda a lida
das vezes rotina talvezes a sina
eterna é a vontade
do ser e ter e pretender sem tentar entender
o mais do mesmo no dia de viver
eterna é a ilusão
em vão saída escape de trajeto e caminho
junto ou sozinho
no tino e no mote de rumo e destino
eterna é a arte
que parte e maltrata a essência do artista
se expressa maldita
na dita obra composta e inaudita
eterna é a morte
forte fonte única uníssona amada
aguardada amante mediadora
do âmago amargo andrógino e ardido
éter essência
é ter no seio
de si e sere ter na mente
tão somente
esta semente
esta semente
eternamente
2005-24/11/2010
00:08:50
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Um conto de quase amor (ou um sonho impossível de lobos feridos)
Sabia que sua hora estava chegando, sabia que a vida poderia lhe abrir portas, e numa dessas portas, ela apareceu na sua frente. E antes da hora chegar. A princípio tão comum e ordinária, que parecia sem atrativos. Ao longo dos dias, percebeu nela um tesouro escondido, percebeu então uma disposição então adormecida em querer esse tesouro, custe o que custasse.
Queria ela a todo momento, seu mundo entrou em parafuso, sua vida desandou. Deixou de lado alguns projetos, algumas coisas a fazer e passou a tê-la como prioridade, embora não o demonstrasse da maneira mais adequada. Achou que talvez fosse amor, que não sentia há séculos por nenhuma das quais se aproximou antes, afinal ela era o que ele sonhava em uma mulher: personalidade, vontade de viver e batalhar, caráter.
Mas ela tinha dentro de si também uma amargura alimentada por frustrações: sim, um passado existia e nela se continha como o sangue que corria em suas veias. E esse passado, como sempre, traz consigo uma bagagem pesada, um fardo doido e doído, que machucava-a sempre quando pensava no homem com quem estivesse e a afastava da relações mais duradouras. Sim, ela queria amar, queria dar amor, e acima de tudo, queria ser amada como uma princesa dos contos de fadas que lia à noite pro seu filho, mas o lobo que estava entro dela não permitia. E ele, no momento, estava mais pra ogro do que para príncipe.
Como muitos de nós, sabotou a própria felicidade, pra viver de certa piedade alheia. E assim vivia seus dias, a acreditar em uma história nova que pudesse surgir, mas com um pragmatismo cruel de cortar as coisas, no momento certo de se defender do amor que queria tanto.
Ele, com um passado tão pesado quanto o dela, mas de vida retardatária por anos perdidos em tanta coisa que sonhou e acreditou e se frustrou também, e muito mais perdedor que ela, sabia que era a encarnação do fracasso, talvez ele o mais perdedor dos homens que conhecia, mas nunca perdera a vontade de parecer melhor, buscar o melhor, e vestia uma máscara que o impedia de ser quem era, pois precisava se mostrar forte a tudo e a todos, afinal dependia desse ópio pra viver, outros ao seu redor também, como ela dependia de seus vícios. Ambos tinham uma semelhança, e essa semelhança talvez os repelisse.
Só que ele percebeu algo até então ainda não percebido. Como na matemática, menos com menos dá mais, e sacou que o menos dele somado com o menos dela só poderia se tornar algo positivo, maior e melhor, apesar dos altos e baixos que previa nessa situação, de viver com mais baixos do que altos. Como pra baixo todo santo ajuda, ele um descrente nas religiosidades e nesses mesmos santos, tinha certeza de ser o santo próprio, porque já estava ao rés-do-chão. Se sentia um pé-rapado, inferior, um zero à esquerda por não poder proporcionar a ela o que ela merecia(na verdade, se sentia assim sempre, por isso a máscara).
Sobrava a certeza de nela ter os empurrões que precisava, até porque sabia que no pouco tempo junto com ela, não tinha mostrado ainda o que tinha de melhor, seja por falta de oportunidade, seja por falta de auto-estima em mostrar-se bom e se sentir amado de volta, com medo do mesmo amor.
Eram dois lobos, perdidos e perambulantes, à procura do que não poderiam ter. E nem manter. Ela não conhecia tanto o lobo que a devorava tão suavemente, mas era dependente dele. Ele conhecia seu lobo e lidava bem com ele, mas quase sempre se machucava em batalha. Ele acreditava nas pessoas, um idealista do bem comum, no lobo bom que se digladia com o lobo ruim, deixava seu lado mau sempre adormecido pro sofrimento alheio e alimentava o lobo bom, deixando pro lobo ruim apenas a auto-flagelação sua de cada dia.
Ela, numa mistura de vaidade (queria sempre, mesmo que por pouco tempo, se sentir bem, despertar um homem pra si mesma é sempre bom e alimenta o lobo bom, mesmo que por apenas vaidade), e então vivia de se alimentar dessa situação pra se sentir bonita, atraente, mulher desejada. Ela queria se jogar ao abismo das paixões, mas sempre lhe faltava a coragem de fechar o olhos e dar o passo adiante: isso implicava em matar aos poucos o lobo ruim. Abria a primeira camada, mas trancava as outras mais internas, porque lá dentro dessas camadas dela se refugiava, o seu lobo ruim estava à espreita pra devorar tudo e tomar o controle. Ergueu muros, eletrificou cercas, cercou o lobo, e assim não permite a domador nenhum encará-lo. Mesmo que um bravo domador apareça, seus dispositivos automáticos, as armadilhas armadas pelo lobo do lado de fora estarão sempre prontas.
Ele se ressentiu ao perceber isso, tentou se vitimizar como era de sua índole, mas acordou. Hoje sabe que podia ter feito a diferença, mas ela também o sabe e não se permite pensar assim. Pra se esconder. Pra alimentar o lobo ruim. Ele, se tranqüiliza. Ela quebrou o seu orgulho, machucou a alma dele. Mas nas cicatrizes dele, que já são tantas, nele que já morreu tantas vezes e não desistiu de viver por isso. Mais um baque, mais uma ferida, no meio de tantas, não farão tanta diferença. Mesmo sabendo que ela não quis tentar o que sempre esperou de alguém: ser entendido e compreendido. Ele, tão louco, tão diferente, mais uma vez, julgado como igual, nivelado por baixo. E dessas feridas sempre soube cuidar.
Era ela um tesouro. Um diamante. E como todo diamante, escondido na terra, na lama, precisava ser escalavrada, era preciso abrir a terra, se sujar, se ferir, se rasgar pra rasgar o chão, ele estava disposto a isso. Até porque, mesmo que pra ele soasse normal e pros outros arrogância, se sentia como ela. Ele poderia ser um tesouro pra ela ou pra qualquer outra que se dispusesse aos aparatos de escavação. Mas o processo é longo e difícil, e ambos, cansados de tantas guerras e lutas pela sobrevivência, hoje empunham suas bandeiras brancas. E fogem da batalha. E ambos os lobos ruins se deliciarão com a covardia de cada um. Afinal, sofrimento novo é iguaria fina.
15/11/2011
15:41
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Poética
a ideia é a ideia paixão é a ideia é estar apaixonado por uma idéia ideia assim com acento eu gosto paixão ideal ou ideologia de estar apaixonado poridéia
poesia
se faz com palavras não com idéias mas pra mim a ideia é a voga o que rola e o que mais tá tendo neste mundo vasto mundo onde tantas pedras em caminhos e galáxias e estrelas dois e dois são sim quatro num mundo exato que não vivo e transpiro e repito que piro antropofágico e enrosco essa rosca soberba e bebo bobo da chama da graça da fonte ser que jorra eus em profundas colisões de despachos em boutiques dos amanhãs em logros e diamantes que cintilam em pescoços de mendigos e saber estar apaixonado é a paixão de estar e ser e viver e sentir e sonhar e esperançar-se um algo melhor em si que busca estar em si e não acha o ser em si e sentir-se sem si e ninguém alguém algures seja e nenhures ficaqui em si e sê são enquanto essa paixão te aguarda e te pega e estupra teus poros e masturba tua pele e fricciona tua mente dentro da cabeça e esqueça que outra coisa há em ti e te segura que a vida vai ser dura e perceba e se meta e se remeta ao verso em prosa e reverso sem fortuna e sem glória e sem consideração e sem amor só tesão e força dentro de ti que expulsa palavras e te manda às favas da vida mundana e mesmo assim não se assemelhas a esses mundos e charadas serão sempre as coisas e os sentidos em suma soltos serão as vozes dessa cabeça que agora é muitos eu em você e você nunca saberá se é vossa mercê vosmecê ou você ou ocê ou cê ou c e então não haverá conclusão pois a linguagem é limítrofe é muralha da expressão e impede o que se impele ao pleno mas pra que tentar ser pleno se em plena visão a dúvida se instala e estala a vida e a pouca parte de desejo de sentir que sobra é muito e intensa e sopra forte dentro e fora de dentro pra fora de fora pra dentro estímulo não falo de sexo falo de arte que bate e lateja o traço da pena que rabisca mas eu escrevo no computador mas sinto que isso é minha pena e a minha plena convicção de artista que tento ser me faz louco assim e não tente entender e aceite o que há de ser ver e veja ouça tateie fale cheire pense ame lute que isso te faz eu em ti ou ti em ti mesmo não sei por que quero abraçar talvez o mundo seja pequeno e nem se sabe por onde começar talvez a luta seja em vão outros diziam mas lutarei essas palavras me maltratam assim como aquela dona que um dia não me deu bola mas assim mesmo se faz se cria se projeta si em algo fora de si e se faz então criação e veloz e atroz nos dá voz e é nóis nessa fita que agora é minha e de mim se afasta e me sacia as partes que não consigo decifrar então preencher com fôlego deve haver um débito e um crédito em cada coisa que se cria os preços são a custa que se paga nesta vida descabida e fudida e mal-paga e gratuita mas se for assim de graça não tem graça e a graça que nos abençoa é o que voa no vão das coisas que vão de nós a eles e quem são eles são talvez aqueles e quem são aqueles são os que cantam a canção ou seja eu e tu e ele e nós e vós e eles e tudo e todos e a gente que vamos e a gente que fumos e a gente que iremos e em intentos quereremos mais e tentaremos mais e talvez nunca chegaremos nem lá e sim em lugar nenhum e aqui acolá e cá e por entre e dentro vem de baixo pra cima de cima pra baixo de ladinho e não se deve esquecer que tem de ser de verdade mas qual verdade a verdadeira ou a que se apresenta que aparenta ser a mais indigesta e compreender é que são elas e se desdobrar e redobrar esforços sem força pra resistir e resistência é coisa elétrica então o poema é elétrico desperta fagulhas em mentes que podem ou não brilhar é essa fagulha de criação ética estética que pode ser imoral ilegal ou engordar mas que se danem os nós não quero a fruta e sim o sabor e virar estranho se perceber em suas entranhas o quão aberração se torna e se fode quem não entender. E ponto.
23:34
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Exata solidão
Ah! Esta solidão!
Esse estar sozinho em qualquer caminho
esse tráfego por entre e dentro
essa balbúrdia sem alarde no subúrbio
esse querer junto aos outros submundos
essa quimera em utopia metafórica
essa entropia proposital estrambótica
esse daltonismo ao conhecer alguém
esse chão que se pisa sem ser dono
essa sordidez acesa que acena
essa coisa grande que não amansa
essa mansidão virtual de mula manca
esse eufórico som agudo inaudível
essa vontade falsa do incrível
esse talho na alma do cerne ferido
essa esperança moribunda e febril
esse sorriso de brilho fosco à luz da lua
esse cambalear constante pela rua
esse sentimento de posse do nada absoluto
essas cores que evocam um paraíso perdido
essa luz que afaga a falta de sentido
essa plenitude preenchida no vazio
essa água turva que solidifica o rio
essa suavidade mórbida no cocoruto
essa chama acesa remetendo ao luto
essa saudade do que ainda nem sei
essa trindade religiosa que é lei
essa turba de calma na tempestade
esse delírio tênue no cós da realidade
isto que introspecta e semimata
essas possibilidades que não se abarcam
essa parede intransponível na emoção
feito campo-de-força no empedrado coração
que de tanto líquido mole que bate
se fura em sensibilidade e arde
machuca e corrói a sombra
dessa solidão que teimo em viver.
17/04/09
12:19:41
terça-feira, 20 de setembro de 2011
Apelo Lírico
Ricardinho Sales
Cala-me!
Antes que eu fale
o dever de dizer.
Sufoque-me!
Antes que eu inspire
o ousar de fazer.
Odeie-me!
Antes que eu ame
o dom de sentir.
Aborte-me!
Antes que eu nasça
o direito de morrer.
Emudeça-me!
Antes que eu grite
a fúria de ser.
Antes que eu veja
o amor a surgir.
Prenda-me!
Antes que eu divulgue
o livre de viver.
Estupre-me!
Antes que eu goste
o contigo aprender.
Ampute-me!
Antes que eu possa
o texto escrever.
Castre-me!
Antes que eu transe
o lance de conviver.
Mate-me!
Antes que eu preencha
o vazio de existir.
Então
faça de mim
Tua
morada.
26/02/10
19:00:14
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
O suicida
Tergiversou.
Quase defenestrou-se. Sacou do cérebro as razões e motivações para entender
porque estava fazendo aquilo. Por um instante, se arrependeu de arrepender-se e
quis continuar com tal atitude. Registrou num flashback o momento, marcou
aquela página no livro de sua vida e seguiu adiante. Escureceu. A noite já
estava adulta quando veio o sono. Mas não queria dormir. Não era notívago nem
insone. Apenas normal. E era isso que não suportava. Viu-se ao espelho, odiou-se.
Cortou os pulsos, deixou o sangue encher a banheira até a metade. Como demorava
a morrer, entrou na mesma com o secador de cabelos ligado. Ao sentir o choque
sanguíneo, se arrependeu novamente, mas ainda assim, virou o copo de veneno de
rato com uísque que havia preparado.
Tentou
sair, mas estava fraco. A eletricidade restringia seus movimentos. Lerdo como
uma lesma manca, conseguiu se levantar. Quando se firmou com dificuldade 10 os
pés, viu-se novamente ao espelho: pálido, cara de morto, o sangue jorrando.
Foi aí
que escorregou no visgo, bateu a nuca na quina da banheira. A cabeça abriu,
mais sangue verteu. A partir dali, deixara de existir. O seu gás já havia
subido.
No
atestado de óbito, a causa mortis foi definida como traumatismo crânio-encefálico.
O que deu crédito à sua justificativa suicida no bilhete tradicional:
“Tudo o
que eu tento fazer sempre dá errado.”
2005
domingo, 4 de setembro de 2011
Poema Galáctico
E qual quasar que pulso
feito supernova querendo
pretendo
universos criar
E aqui acolá deveras (e à vera)
arte que bate
lateja o trejeito
rebusco e rabisco e busco no
lusco
abro broto tonifico fico cooptado
isso
mexe que remexe e me eu (trans)
viro
a página buraco negro
de matéria: minha antimatéria
escrito nessas estrelas
na velocidade um pouco sem luz
escuro brilho
que acho ser
galáxia minha do cerne ao meu redor
orbita
o som desse vácuo
viajante
de partícula em partícula
atomicosou e serei
meu Deus que quero tanto.
09/09/2008
12:12:39
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