Vista aérea da favela de Paraisópolis, na capital de Sâo Paulo |
por Ricardinho Sales
Me prometeram casa pra morar
me entregaram um caixote financiado
que quando atraso a prestação querem tomar
me prometeram emprego pra trabalhar
me entregaram um patrão vampiro
que me suga todo o sangue que sobrar
me prometeram asfalto pra andar
me entregaram uma rua cinzenta
que a chuva esburaca de marrom se molhar
me prometeram salário pra viver
me entregaram tão pouca grana
que antes do fim do mês me viro em 3 pra fazer render
me prometeram escola pra estudar
me entregaram salas lotadas e depredadas
e mestres que não entendem o meu caminhar
me prometeram crédito pra eu comprar meu carro
me entregaram um carnê que vale o dobro
e poso de bacana sem grana pra tirar um sarro
me prometeram livros para eu me instruir
me entregaram volumes velhos empoeirados
que apóiam o pé da mesa pra não cair
me prometeram hospital para eu me curar
me entregaram um posto de saúde pequeno
que nem cabe o povo que vai até lá
me prometeram teatro pra eu me entreter
me entregaram um salão pomposo e inacessível
que não posso pagar quando eu quiser ver
a igreja quer minha alma
o candidato, meu voto
a TV, a minha audiência
a propaganda, o meu consumo
o banco, o meu dinheiro
o artista, o meu gosto
o país, o meu trabalho
meu caráter, ideologia e consciência,
meu pensar e meu querer,
minha raiz e minha crença,
minha história e meu ser
não interessam a ninguém.
O ser humano é
a pior
moeda de troca
mas se torna
a melhor
na mão de quem
sempre tem
pra trocar.
16/11/2010
01:02:33
oq eu posso dizr? vc disse td! vc encontra a razão e a sensibilidade onde é difícil vê-las.
ResponderExcluirsão smpre promessas fazem e as palavras de honra acabaram por poerder o valor.
vc é foda *-* e eu adoro seus textos, suas poesias...