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Nativo de Mococa, a Macondo da Mogiana (não sabe onde fica Macondo? Leia "Cem anos de solidão" que você descobre)
"Amar e mudar as coisas me interessa mais" (Belchior)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Medalhas da paternidade



Ricardinho Sales


para Alanis e Ágatha








com vocês


engano o tempo
que me espera na esquina
e venço a morte
tão triste sina


crio


só minha
uma posteridade
e vira legado de sangue
vencendo a eternidade


me torno


no tudo que se tornarem
fonte da vida que em vocês se faz
e que se multiplicará muito mais
então vencedor do tempo


sou


semente de amor na terra caída
e frutífico do pacto
o que meu ser plantou
vencendo a natureza aguerrida


e faço


a que se quer imensa
plena a minha existência
trazendo assim à tona
a vitória da arte-essência
 
29/12/09
03:04:03

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Poética Romântica

por Ricardinho Sales


 A palavra mais bela
              é ela
        o nome dela



    com certeza
  de sua beleza



        tão doce
   como não fosse
          ela



seria um açoite
        a noite
 


de sonhos intranqüilos
      mas fica aquilo



     a imagem


dela
como paisagem



que me acalma o ser
    me faz escrever



a palavra mais bela
          que é ela

 

tudo bem, é só um nome
mas apenas o que pode saciar
             a minha fome








quinta-feira, 7 de julho de 2011

A sensacional Vagina musical

Apreciem, rapazes... 
Essa mulher é um exemplo de determinação pra todos nós.

Imaginem como devem ser os ensaios.




Agradecimento a parça Rafael Silva pelo link.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

As incríveis Irmãs Ross

Raparigas fantásticas, famosas na época. 

O vídeo é de 1944, e foi recuperado, digitalizado e colorido. 
Nesta clássica coreografia do filme “Broadway Rhythm”, as assim chamadas 
The Ross Sisters, Aggie, Maggie e Elmira, 
e elas cantam e movimentam-se de uma forma que não parece ser humanamente possível.
No primeiro minuto elas apenas cantam. A canção, "Excelente salada de batatas", é bem bobinha. Mas o que vem na sequência, a partir de 1:02, galera, é de cair o queixo. 
Eu fiquei com cara de ué nessa parada. Realmente impressionante.

Eu pirei. Elas são a namorada que todo cara como eu sonha em ter. 
Vou sonhar com elas por uns dias, estejam certos disso.

RECOMENDAÇÃO: ASSISTIR EM TELA CHEIA, DIRETO NO YOUTUBE!!!




Que mané Cirque du Soleil o caramba. Os artistas de lá não fazem isso.
Não sei se o que impressiona mais é o giro no chão, a escorregada na caixa, os passos com as mãos ou a pegada da maçã, ou ainda o final com a estrela de 3 pontas... Só sei que elas eram realmente incríveis. Não sei se estão na tiva ainda, mas pesquisando na Wikipedia (usando o navegador Google Chrome, você tem um botão de traduzir), soube que uma delas (Meggie Ross, a mais nova no video) morreu com 34 anos. No video, elas tem entre 15 e 18 anos. Talentosíssimas!!!

P.S.: Agradeço ao parceiro Serginho Ramos, que enviou via email.

domingo, 19 de junho de 2011

Suposto abrigo


Se,
  num dado momento
                  a
                              superfície
                     ab
                  ris
                se
sua dura crôsta
                           revestida
           em rochas
          num abrigo
                              onde eu pudesse me aninhar

Duvidaria...
            se vale mesmo a pena
                                   ou
                    não.
                    sei.
       
                    Devo?



08/07/05
10:30

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Paralisia infantil


É como se essa criança

                    que há em mim
despertasse        
       agora

de sonhos distantes
– ela hibernou –
diz a consciência
– nunca deixou
de habitar-te –
e eu
agora
quero apenas
                                  lembrar
             que esqueci dela
                                  uns dias
não por descuido
mas por aceitação
                                  daqueles
que mataram suas crianças.
Não me importo
com o que virá
                                        agora
mas sei
ela o meu   
                                  combustível
                           em vida

Há outras
                    de sangue
             e      de ofício

é nelas que me acho
e acho também
                                                      isso
             o mais pra felicidade
             essa infância
que me habita
       e recorda-me
                        de então viver
             e sonhar.





30/10/09
14:01:50

sábado, 28 de maio de 2011

Caso de análise


E se o que tive foi ciência
algo me enganou
não foi fui tive que ir
ma(i)s que me prepara
alívio de dor avante

Caço e engulo a seiva
   sou todo parasita
contra-ataco na batida
   celebro minha selva

Meu imo mel e fel
Abundante
       só retrocede
    porque sabe sentir
tremulante
se apercebe
      que esse é o seu céu
 
        O que querer?

            O bruto e o fino
            A coisa toda?
            Veneno e vitamina
            Guerrear pela paz?
            Fazer e recriar
      Não esmorecer
      Em barulho e silêncio
      Vasto mundo!


Eis-me aqui! – dizia o livro
                  Amém!



09/11/07
14:03:41

domingo, 20 de março de 2011

Um pouco de reflexão política

Galera, achei esse video no sítio do Conversa Afiada e não resisti a postar isso aqui. Trata-se de um direito de resposta concedido pela Justiça ao saudoso Leonel Brizola, uma das grandes figuras políticas desse país, que no momento em questão era Governador do Estado do Rio de Janeiro. Lido pelo Cid Moreira, me arrepiou ouvir as palavras de Brizola no Jornal Nacional, um dos porta-vozes do PIG



Não sei quanto a vocês, mas eu tive um orgasmo cívico ao assistir isso. 

sexta-feira, 11 de março de 2011

Moeda de troca

Vista aérea da favela de Paraisópolis, na capital de Sâo Paulo

por Ricardinho Sales















Me prometeram casa pra morar
me entregaram um caixote financiado
que quando atraso a prestação querem tomar
me prometeram emprego pra trabalhar
Foto de Sebastião Salgado 
me entregaram um patrão vampiro
que me suga todo o sangue que sobrar

me prometeram asfalto pra andar
me entregaram uma rua cinzenta
que a chuva esburaca de marrom se molhar

me prometeram salário pra viver
me entregaram tão pouca grana
que antes do fim do mês me viro em 3 pra fazer render

me prometeram escola pra estudar
me entregaram salas lotadas e depredadas
e mestres que não entendem o meu caminhar

me prometeram crédito pra eu comprar meu carro
me entregaram um carnê que vale o dobro
e poso de bacana sem grana pra tirar um sarro

me prometeram livros para eu me instruir
me entregaram volumes velhos empoeirados
que apóiam o pé da mesa pra não cair

me prometeram hospital para eu me curar
me entregaram um posto de saúde pequeno
que nem cabe o povo que vai até lá

me prometeram teatro pra eu me entreter
me entregaram um salão pomposo e inacessível
que não posso pagar quando eu quiser ver

a igreja quer minha alma
o candidato, meu voto
a TV, a minha audiência
Foto de Sebastião Salgado 
a propaganda, o meu consumo
o banco, o meu dinheiro
o artista, o meu gosto
o país, o meu trabalho

meu caráter, ideologia e consciência, 
meu pensar e meu querer, 
minha raiz e minha crença,
minha história e meu ser
não interessam a ninguém.

O ser humano é 
             a pior 
                moeda de troca
mas se torna 
             a melhor 
                na mão de quem
                    sempre tem 
                     pra trocar.

Saiba a história dessa foto clicando AQUI 

16/11/2010
01:02:33

terça-feira, 1 de março de 2011

À morte dos insetos

Macerados
Pisados
Amassados
Espantados

de alguns

               se tiram as asas

e então

vê-se o sofrimento
                                     por prazer

                                                           quando criança

mas

que criança sádica nós fomos?                              Deixa quieto.


É nojo o que causam
É horror o que provocam
É asco o que rola
                              solto                                na visão

e é mosca é barata é pernilongo é grilo é aranha 
e é vespa é mariposa é lesma é verme é

     
                todo mundo é ninguém
 
é o bicho que desconheço

é o besouro que come restos

é a lida dos desvalidos

é a minha gente que sofre e agoniza
                no preâmbulo da existência

                                                                                 que tenta

suplicantemente

                                     existir

no mais

sempre a lagarta virará borboleta

e a seiva transformará podridão em adubo
pra florescer e virar inseto
que não vive só de resto

pois tem abelha tem formiga tem louva-deus
que fazem do viver trabalho e razão
mais do que muito homo sapiens

tem gafanhoto que só devora

tem bigato que lambreca restos

tem (vou voltar na ideia)

formiga que come o que vier
e varejeira colorida que vai à merda
                     pra se suster

não os queremos mas percebemos

e os espantamos pra nos livrar

do que não conseguimos compreender                 
(Quem entende um bicho-pau?)

e muitos ainda vão morrer

27/05/09
22:47:32

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Liu Bolin, o invisível homem pintado (de um email recebido)

Cadê o China que tava por aqui? 



Liu Bolin é chinês e é um mestre na arte da camuflagem. aos 35 anos, o cara trabalha numa foto simples por aproximadamente 10 horas, e muitas vezes, depois de camuflado, as pessoas não o percebem até que se mova. Classifica seu trabalho como uma forma de protesto contra o governo chinês, que em 2005 fechou seu estúdio e passou a perseguí-lo. 


Mais fotos do cara


Fotos à venda                                Wikipedia                           Pesquisa Google














Essa última é surpreendente. 



Por um instante me lembrei do Geninho, do desenho da She-Ra. Lembra dele? Não? 

Então dá uma olhada no video aqui embaixo





Só falta o China também dar lição de moral.

OBSERVAÇÃO que não interessa a ninguém: Quando revi o Geninho, caíram lágrimas de meus olhos... E me arrepiei muito.  

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um homem comum (Conto)


Viu-se no espelho da repartição antes de ir para casa e encanou consigo. Foi numas, mas estava naquelas. De se encontrar, e percebeu que os procedimentos dispensavam-no da persignação  que fazia no instante. E por esse mesmo instante, parou e refletiu: onde? Estava a preocupar-se, mas não sabia o que iria achar, Nem onde queria chegar. E qual a necessidade disso.
Foi quando se deu conta que tudo aquilo, de repente, era meio ilógico: sabia, um passado existia e nele se continha. Recordo-se de seus recalques e seus pudores e sentiu, assim, um medo que batizou logo de receio: não era um medo leve, mas um certo eufemismo a essas alturas seria pra lá de conveniente. Daí veio o insight: onde foi que me perdi? Em qual dado momento, considerando um fator x, levando-se em conta que qualquer coisa que existe é >0 e <∞ (maior que zero e menor que o infinito), observando-se as somas e os produtos dos meios sendo sempre maiores que as subtrações ou quocientes (independentes de restos ou diferenças), e recordando que a vida dá tantas voltas quanto a espiral de DNA inerente a si, cuja qual lhe permitia, entre outras coisas, não ser uma hiena banguela, uma ameba king-size ou um orangotango manco, onde raios foi se deixar?
As respostas vinham num turbilhão que periplava em sua massa cinzenta. Haviam várias opções, era um teste de múltipla escolha com, talvez, todas certas as respostas; totalmente meio-certas; absolutamente meio-erradas; e a clássica n.d.a. Chateou-se com tal prelúdio de dúvidas essenciais, pois sentia que eram realmente essenciais para que respondesse as questões existenciais posteriores. A priori, a ciência de si é difícil e demanda uma sinceridade imparcial, dessas que ferem e magoam por prazos indefinidos. E, pensando bem, pra que se preocupar com isso agora? Mas, no caminho para casa, enquanto andava, deveria pensar em algo. Fez então uma varredura mental e percebeu: há tempos não fazia um balanço e, como faltava um bom trecho pra chegar em casa, voltou ao ponto de partida: onde? Quando? Por que? Pra que? Quem? Como?
Agora iria até o fim.
Teria sido no início da vida, na porralouquice da adolescência, afoito em viver e experimentar, impulsivo e cheio das razões absolutas que só a imaturidade traz, a busca por novas sensações, todas essas coisas que implicam no que se é possível chamar de formação de caráter? “Não.” – pensou – “Justamente por estar com o caráter em formação é que não podia deixar de ser o que eu não era, pois o que eu era naquele momento ainda tava se definindo. Como poderia aquele moleque que eu fora um dia ter esse tipo de consciência, se ainda não me tinha sido apresentada tal virtude?”.
Definitivamente não era por ali que devia procurar.
Lembrou-se então da fase seguinte a esta, em que, jovem, vivia ainda com intensidade, ainda tenaz. Nessa época, era alegre, divertido, bonito, inteligente. Foi, talvez, digamos, um cara interessante. Alguns resquícios de adolescência lha acompanhavam até o início da idade adulta mas amadurecia depressa demais e aos poucos, esses resquícios se sedimentavam. Imaginou se seu caráter já estava formado nessa época, e achou que sim. Mas se lembrou também que quem acha não sabe nada, que se individualizou muito nesses tempos, trabalhava. Arrumou uma namorada maravilhosa, com a qual se casou; ela lhe podava muito, mas ele a amava a ponto de mudar em si o que não agradava à sua então parceira. A relação era recíproca: também era amado em igual medida pela compenheira, só que ela não fazia idéia do nível de adaptação a que sujeitava seu então marido, e disso só ele sabia. Por isso mesmo, passou à etapa seguinte: não iria encontrar nestas memórias a solução, pois concluiu que sua vida nessa época passava por mudanças demais e essa instabilidade não lhe assegurava ser ele mesmo.
No próximo período que passou a analisar, encontraria talvez os maiores desafios, os grandes altos e baixos nesse gráfico que fazia de sua vida. Sabia que agora, talvez, a porca torceria o rabo: o casamento o transformou em pai de família. E os filhos cresciam, os três, comprovando a evolução da espécie: cada vez mais fortes, sagazes, espertos, ativos. Encantava-se com suas descobertas. O trabalho ia bem, fora promovido. Se dava bem com todos os colegas, desfrutava de  situação financeira abaixo das expectativas de sempre, mas de maneira estável. Afinal, cargo público é mamãozinho com açúcar. Nunca fora corrupto, nem de pilhar o alheio. Quem sabe isso não fosse a tal felicidade da qual todos falavam e, aí sim, lhe houvesse oportunidade de ser quem realmente fosse. Mas se lembrou que nunca pôde sentir esse gostinho por aqueles dias: fazia concessões aos filhos que não gostava de permitir; apesar de não ser corrupto, como já dito, seu chefe imediato o era e lhe impunha obrigações ilícitas, as quais fazia com desagrado e pudor excessivos, tudo porque um belo dia o chefe os flagrou dando uns pegas numa estagiária nova, colega recém-chegada na repartição. Cabe aqui uma pausa pra explicar essa situação.
Era uma ninfeta de 19 anos, deliciosa. Sempre ele foi fiel à esposa, mas como Nelson já havia dito, “O brasileiro, se não é canalha na véspera, é canalha no dia seguinte.” E ele é brasileiro e não desistia nunca: a patroa engordara, perdera o viço da pele, o que a embarangou em pneuzinhos e pelancas elásticas, transformando a mulher dos sonhos em coisa intragável até na maior necessidade fálica. Ela só se preocupava com os filhos e esquecia de de sua vida, de sua beleza, sua personalidade. Era ficar à toa vendo novela de dia, reclamação de noite quando os filhos estavam todos em casa. Só os bacuris tinham importância, o que aplacou em nosso amigo, primeiro ciúmes, quando a esposa ainda tinha algo a ser notado, o que o fez, meio que inconscientemente, num mecanismo de defesa, maltratar os filhos, olhando-os com um certo rancor. Como a situação se deteriorava com o tempo, percebeu o erro, entregou os pontos, voltou a amá-los, mas se desiludiu de vez com a companheira. Apesar disso, se esforçou em ser fiel até o último momento, não por convicção, mas por convenção social mesmo... Mas a coleguinha de trabalho... Ah! Aquela estagiária.... Sintonizavam-se bem demais nas coisas do trabalho, o que um pensava, o outro pensava também; o que um fazia, o outro completava. Os olhares se cruzavam a todo instante, se aproximavam para falar próximos e ficava aquela cena de filme, quase beijo, quase sempre. Ela era jovem, cheia de vida, taluda, com tudo no lugar. Dessas de mandar foto como candidata a “Coelhinha da Playboy”. Romântica, mas safadinha na dose exata. As idéias combinavam bem demais, ela o olhava com aquele jeito doce meio sacaninha que derrete qualquer cristão fervoroso. Ela fazia questão de usar o típico uniforme de secretária: salto, meia-calça escura (ou ligas) por baixo da um a saia no joelho; camisette branco de botões, abertos estrategiicamente no decote, exibindo os fartos seios de um jeito que eles não pulavam pra fora nem se escondiam; cabelos longos, pretos e lisos, presos com lápis, formando um coque alto; óculos discretos, que também faziam as vezes de tiara quando soltava os cabelos; prancheta na mão pra fazer anotações, quando colocava a caneta na boca e fazendo aquela expressão de quem ta pensando, ao mesmo tempo que verificava de rabo-de-olho onde ele estava; um olhar penetrante quando vinha, um rebolado malemolente e hipnotizador quando voltava e seus passos faziam no assoalho um som que arrepiava até obreiro de igreja pentecostal.  Não, não era uma mulher puta, era uma puta mulher! Feminina, fêmea fatal, que além da forma clássica, tinha um conteúdo também clássico: inocente onde devia ser inocente, tinhosa onde devia ser tinhosa. E essa visão do paraíso ainda lhe dava bola! Repito: ele tentou até onde deu, mas um belo dia ela deixou na mesa dele um bilhetinho, que a procurasse na hora do almoço. Aí, parceiro, a carne é fraca e fidelidade tem limites, até porque, o nesse caso, o duvidoso que lhe aparecia era melhor do que o certo com que estava casado: em casa, comia arroz requentado e feijão amanhecido, e no máximo, uma vez por semana, sábado à noite, uma comida sem tempero e fria, o que causava acúmulo de libido e testosterona e, agora, naquele momento, essa morena, esse monumento de mulher lhe seria um banquete dionisíaco, refeição completa, caviar russo com foie gras, pra desopilar o fígado e o falo. Resumindo: não demorou muito  a cabeça de baixo dominou a de cima: foi ao local do encontro e lá, entre sorrisinhos e olhadas sem graça pro lado, ela revelou que achava ele um homem interessante e tals. Aí, querido leitor, num prestou, o nosso (herói?) nem titubeou, deu-lhe um “vem cá minha nêga”, carregou-a pro arquivo morto e mandou ver na lindinha. Foi tão bom que a coisa virou rotina, dia sim, dia outro, horário de almoço era sagrado. Foi quando chefe percebeu que os dois ficavam até mais tarde pro almoço e se aciumou da situação, pois tava de olho grande na menina e, um belo dia, driblou todo mundo, fingiu que foi prum lado, veio pro outro, deu um tempinho e... Ta lá! A estagiária, sainha pra cima, de quatro, gemendo loucamente numa enrabada... O subordinado ia e vinha, batendo a barriga naquela bunda linda... Que inveja (eu também). O chefe deu o alerta da visão, foi aquela coisa de se vestir rápido, mas o cara saiu de fininho. Chamou a estagiária, veio com a conversinha de que queria também, senão rua, ela, muito digna, preferiu perder o emprego. Quanto ao nosso herói, ao ser chamado pelo chefe, deixou claro que ou ele colaborava e fazia o que fosse mandado, ou entregava a cena à esposa, o que transformaria a sua vida num inferno de deixar o capeta com inveja. Como não tinha opção, pois também era um cara acomodado, resolveu ceder à pressão. Já a amante, ainda a encontrava no horário de almoço, num drive-in perto da repartição.
A vida tripla que levava foi a garantia de que ali ele se perdera, mas ainda não foi nesse estágio que se perdeu de si: como seu castelo de cartas marcadas caiu (a garota lhe passou pra trás depois de algum tempo, o esquema de corrupção foi descoberto, o que lhe rendeu um rebaixamento de cargo, implicando em abrir o jogo com a patroa, ocasionando assim o divórcio litigioso com pagamentos compulsórios de pensão alimentícia descontados no contra-cheque, visitas aos filhos agendadas pelo juiz, o olhar rancoroso dos três, já pré-adolescentes e manipulados pela mãe, lhe causando desgosto e remorso, vivendo sozinho numa kitinete alugada num bairro afastado do centro da cidade, sem amigos e com vizinhança que considerava de “baixo nível”, e aí então pôs-se a pensar: “não, não foi aí que me perdi de mim, pois se eu tivesse me permitido nada teria acontecido como aconteceu, as circunstâncias não me engoliriam. Logo, estava perdido há tempo... Ou será que não: Acho que se...” – parou aí o raciocínio para pôr a chave na porta e entrar em casa. A noite já estava baixando.
Então, foi dar uma mijada, saiu sem lavar a mão, foi à geladeira, não achou comida e pegou uma latinha de cerveja, ligou a TV, sintonizou a novela, sentou no sofá, peidou barulhentamente, tirou os sapatos e as meias, começou a coçar as frieiras e deixou tudo pra depois.