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Nativo de Mococa, a Macondo da Mogiana (não sabe onde fica Macondo? Leia "Cem anos de solidão" que você descobre)
"Amar e mudar as coisas me interessa mais" (Belchior)

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Apelo Lírico


Ricardinho Sales

Cala-me!
Antes que eu fale
      o dever de dizer.

Sufoque-me!
Antes que eu inspire
      o ousar de fazer.

Odeie-me!
Antes que eu ame
      o dom de sentir.

Aborte-me!
Antes que eu nasça
      o direito de morrer.
Emudeça-me!
Antes que eu grite
      a fúria de ser.
 

Cegue-me!
Antes que eu veja
      o amor a surgir.

Prenda-me!
Antes que eu divulgue
      o livre de viver.

Estupre-me!
Antes que eu goste
      o contigo aprender.

Ampute-me!
Antes que eu possa
      o texto escrever.

Castre-me!
Antes que eu transe
      o lance de conviver.

Mate-me!
Antes que eu preencha
      o vazio de existir.


 
Então

                faça de mim

         Tua

                 morada.


26/02/10
19:00:14









quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O suicida


por Ricardinho Sales

 
Tergiversou. Quase defenestrou-se. Sacou do cérebro as razões e motivações para entender porque estava fazendo aquilo. Por um instante, se arrependeu de arrepender-se e quis continuar com tal atitude. Registrou num flashback o momento, marcou aquela página no livro de sua vida e seguiu adiante. Escureceu. A noite já estava adulta quando veio o sono. Mas não queria dormir. Não era notívago nem insone. Apenas normal. E era isso que não suportava. Viu-se ao espelho, odiou-se. Cortou os pulsos, deixou o sangue encher a banheira até a metade. Como demorava a morrer, entrou na mesma com o secador de cabelos ligado. Ao sentir o choque sanguíneo, se arrependeu novamente, mas ainda assim, virou o copo de veneno de rato com uísque que havia preparado.



Tentou sair, mas estava fraco. A eletricidade restringia seus movimentos. Lerdo como uma lesma manca, conseguiu se levantar. Quando se firmou com dificuldade 10 os pés, viu-se novamente ao espelho: pálido, cara de morto, o sangue jorrando.



Foi aí que escorregou no visgo, bateu a nuca na quina da banheira. A cabeça abriu, mais sangue verteu. A partir dali, deixara de existir. O seu gás já havia subido.



No atestado de óbito, a causa mortis foi definida como traumatismo crânio-encefálico. O que deu crédito à sua justificativa suicida no bilhete tradicional:







“Tudo o que eu tento fazer sempre dá errado.”







2005

domingo, 4 de setembro de 2011

Poema Galáctico


por Ricardinho Sales





E qual quasar que pulso
  feito supernova  querendo
                   pretendo
   universos criar





E aqui acolá deveras (e à vera)
   arte que bate
                       lateja o trejeito
rebusco e rabisco e busco no
                    lusco
               e no fusco

abro broto tonifico fico cooptado
                        isso
mexe que remexe e me eu (trans)
                          viro
a página buraco negro
de matéria: minha antimatéria
      escrito nessas estrelas
na velocidade um pouco sem luz


         escuro brilho

        que acho ser
        galáxia minha do cerne ao meu redor
                               orbita

o som desse vácuo
            viajante   
                   de partícula em partícula
atomicosou e serei
                               meu Deus que quero tanto.










09/09/2008
12:12:39