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Nativo de Mococa, a Macondo da Mogiana (não sabe onde fica Macondo? Leia "Cem anos de solidão" que você descobre)
"Amar e mudar as coisas me interessa mais" (Belchior)

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sem cabimento

por Ricardinho Sales
"Dia de Pentecostes em Israel" nanquim do mestre Getúlio Cardoso

        Cabe, aqui,
              a seiva
             na relva
       em folhas
          dropando
           fluindo
       a energia

        Cabe, aqui,
            a semente
          tão somente
             sentimento
            a estréia
            estreita
        e não-estéril
               febril
          essa partida

        Cabe, aqui,
    o sangue
    em baques
       bombeado
 tão rubro
    combustível
     acelerável

        Cabe, sim
       no peito
      sem jeito
        o resto
         e o tudo
           entulho
           intumescido
           esculacho
        translúcido

        Faço caber
     o que precisar
       para encher
           deixar
             em riste
              a mente
             tão longe
                 em seu lugar
         e seus aondes

         E dá ainda
          confusão
        toda essa
            coisa
             insana
           encasulada
             cabendo assim
                 até o fim


26/10/10
00:45:53

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tulipa Ruiz - A revelação da MPB de 2010

Na minha página Sentindo a vibração, postei um material sobre Tulipa Ruiz. Confiram!!!

Acerto de contas com a infância

por Ricardinho Sales


Aquele menino
não fugiu de mim
ficou assim
tão pertin
que nem sei
quando é quem

fez de mim
essa lágrima que escorre
enquanto escrevo

jaz aqui
interno
mas não interino
René Magritte, Le double secret, 1927

quer voltar
assumir
seu lugar.. não freio

apenas sinto
por dentro
seus gritos

e ele vem
sem medo
de ser
tão meu
tão seu



quero-o agora
e sempre
pois parte
de mim e de mim
é e vai
fica e sai
volta quando quer
retorna quando ser

não o podo
nem castro
pois sei ele
meu eu mais feliz
o que o ai me diz



31/10/2010
00:18:07

domingo, 23 de janeiro de 2011

Lembrando Sampa (Homenagem ao aniversário de Sâo Paulo)

Por Ricardinho Sales


Fotografia de Satélite da Grande São Paulo
Quando eu chego
a lágrima escorre
  lembro
  o muito de ti 
         que há em mim


já na Marginal
       vejo as luzes
  e recordo
      nossa antiga parceria
      repousa no ser


parti daí
  pra cá que estou
   saudades sinto
   mas sempre vou
        e nunca esqueço


as nossas mazelas
tão nossas tretas
essa coisa doida
         e doída
   ferida aberta


te quero pra sempre
dentro de mim
berço onde nasci
mas não posso nunca
deixar pra trás


essa outra raiz
minha matriz
caipira província
que também
me contém


e nesse duplo vou além


06/11/10
00:52:06

Um dia qualquer (conto)

Salvador Dalí, "Premonição da Guerra Civil", 1936


por Ricardinho Sales


Cheguei ao hospital em coma induzido. Nada me abalava, ainda assim, vagarosamente abri os olhos: meu cérebro não queria obedecer. O que eu via era coisa que eu sabia que me traía: uma comadre pra mijar, uma foto do Barack Obama e a presença física dela. Tinha um câncer na minha mão. Assoprei, ele caiu no chão e feito bolinha de pinball, saiu batendo pelo quarto todo. Como não podia virar o pescoço, acompanhei-o com as pupilas. Ricocheteou nos ladrilhos, ela ficou sem entender, ele rodou por todo lado, foi quebrando tudo até dar a volta nela, encontrou sua nuca. Nisso, ele reconheceu matéria orgânica e grudou no cabelo. Ela sentiu o baque, pôs a mão e ele engoliu a mão dela. Ela olhou pra mão sem mão e saiu correndo, gritando pelos corredores que não queria o câncer, porque ela era de sagitário, além de loira. A enfermeira chamou o exército e botaram nela uma camisa de força camuflada. Um helicóptero de aeromodelo pousou no saguão do hospital, dispararam nela um raio miniaturizador e Fernão Capelo Gaivota saiu escoltando o brinquedo, voaram até desaparecer, mas antes colocaram a antena do controle remoto na minha cabeça pra eu definir o destino. Como eu tava dopado e em coma, pensava em Alice e nos jogos de bilhar dos livros do João Antônio. A uma hora dessas, ela deve estar numa mesa do Bexiga, com o Chapeleiro Louco, usando o coelho branco de bolão e a mão maneta de taco, toda liliputiana, correndo pelo pano verde.

Eu fiquei então sozinho no quarto. Pensava num globo estroboscópico de furos a envolver o sol. Comecei a ouvir uma batida de rap, entraram pela porta o Tião Macalé e o Antônio Abujamra cantando “Homem na estrada”, querendo me alegrar. Pedi com os olhos pra eles saírem, e não fui atendido. Liguei a televisão e vi o Sílvio Santos apresentando o Jornal Nacional, chamando uma reportagem em que o Ney Matogrosso entrevistava o Maguila num Congresso Internacional de Ciências Proctológicas Elegantes. Depois, cortaram para uma rave num presídio, onde Chitãozinho & Xororó eram DJs, apresentados pelo Cid Moreira em figurino de Hip Hop. “Pôxa vida, que mundo sem novidades...” – pensei comigo, enquanto materializava uma fogueira, depois de transformar meus visitantes em lenha.

Saí levitando, já que não podia andar e, no corredor do centro cirúrgico. Vi o Touro Bandido xavecando a Vaquinha Mococa e lhe oferecendo leite condensado peniano, enquanto dois açougueiros lhes tiravam escamas do contra-filé com tesouras de jardinagem, descarnando-os. Em outro corredor, achei a ala da ortopedia e o polvo Paul debatia com o Lula sobre os tentáculos do poder, enquanto na ala psiquiátrica tinha um trio elétrico no pátio com o Suplicy comandando a festa, cantando axé em versão psy trance. Subi ao topo do prédio, ouvi uma voz na minha cabeça, era o Professor Xavier pedindo pra eu tomar cuidado, porque a Jean Grey confessou lá na mansão que estava apaixonada por mim, e com isso o Wolverine e o Ciclope tavam querendo me pegar pra acertar as contas, muito putos com essa estória. Pensei comigo (e era como se eu falasse em voz alta, o cara é telepata) no que fazer, aí me lembrei dum ritual de pacto com o diabo que li no Livro de São Cipriano, comecei a me perguntar onde eu achava algumas das ferramentas. O Professor me disse pra eu não me preocupar, no que eu falei que o Ciclope é meio bundão, com ele eu não tava nem um pouco preocupado, mas com o Wolverine...

O Professor foi embora e eu fiquei pensativo. Foi aí que eu vi, na relva do hospício, o Pinóquio, o Pequeno Príncipe e o Holden Caufield. O Holden tava fumando maconha com os moleques, iniciando os carinhas. Ele continuava sendo aquele cara chato de sempre. Cheguei na roda dos caras, me arrumaram um baseado de orégano com manjericão, fumamos e trocamos uma ideia. O Pinóquio ia assumir os negócios do Seu Gepeto, que tinha acabado de se aposentar e se associou com uns madeireiros ilegais de umas terras griladas lá da Amazônia, ia montar uma serraria para criar um exército de clones. Me contou sobre seu relacionamento com a Emília e sobre como é complicado uma relação de pano com madeira. Às vezes umas ferpas cortavam o pano e as linhas enroscavam, machucava a boneca, uma situação infernal. E a Dona Benta tava puta da vida porque o Seu Gepeto tinha dançando com uma outra senhora no bailão do fim-de-semana, gastou 2 comprimidinhos azuis com outra coroa e, com isso, ela largou do velho e proibiu o garoto de pau de freqüentar o sítio. Mas eles estavam planejando fugir, com a ajuda do Pequeno Príncipe, que resolveu assumir a homossexualidade e tava juntando as escovas de dente com o Peter Pan e ia fazer uma seqüência de viagens pelo universo. Me chamaram pras viagens, eu até pensei em chamar a Jean, mas ela não ia largar o trabalho de salvar o mundo, ela sempre foi muito workaholic. Tínhamos conversado outra vez sobre ela tirar umas férias, ela não quis e o Professor entrou na minha mente e me fez desistir da ideia. À distância. E tem outra, se eu tirasse a Jean do serviço por uns dias, era suicídio. Aí os caras vinham babando pra cima de mim. Nem o Xavier os seguraria. Por isso estávamos brigados.

Eu tava acertando os combinados, resolvi aceitar o convite de viajar com os moleques, ia dar uma ligada pra Lolita e ver se ela tinha mesmo largado daquele babaca pedófilo do Humbert Humbert e chamar ela pra viajar comigo, transar uma viagem pelo universo, ele tava bravo com ela porque a gente também tava saindo e o coroa não gostou de saber desse novo chifre, depois que ela veio pro Brasil, ele quis tirar satisfação e tentou briga, dei uns tapas nas fuças dele pra ver se criava vergonha. Nisso, o Holden se intrometeu na conversa e quis saber porque ninguém tinha convidado ele, ficou bravo, brigou com a gente e saiu falando que ia voltar com o Mark Chapmam quando o cara sair da cadeia.

Saímos todos pra um boteco e encontramos a ovelha Dolly se tosquiando ao lado da Lessie, enquanto a Xuxa dirigia um filme pornô nos fundos, uma paródia de Brokeback Mountain com o Jece Valadão e o Datena de protagonistas. Ela pediu silêncio, e fizemos de conta que não era com a gente. Achamos uma mesa no canto e ficamos lá. O Pinóquio recebeu uma ligação no celular e teve que deixar a gente, ficamos eu e o Pequeno Príncipe. Conversamos, e o papo foi pro mau caminho: o ninfomaníaco viado ficou me cantando, pedindo pra eu ir dar uma com ele no banheiro, rapidinho. Tirou do bolso uma flor e me deu, me cantando na cara dura. Dei uns safanões nele, deixei ele no chão,larguei uma nota de R$ 20,00 na mesa pra pagar a conta e saí vazado de lá, pra evitar confusão maior. Desencanei de procurar outra coisa pra fazer. Flutuei de novo pro meu quarto e dei de cara com a Hebe e o Jack Bauer transando na minha maca. O Jack ficou bravo porque a Hebe me viu e me chamou de “Gracinha”, me convidou pra brincadeira, no que ele respondeu que não era homem de ménage, afinal era republicano, calvinistae só aceitava ordem do George Bush. Declinei do convite, fechei a porta e fui pro corredor, deixei os dois à vontade, nisso o Tiger Woods passou abraçado de duas enfermeiras, segurando dois tacos de golfe, percebi a perversão que ele ia aprontar. Fiquei do lado de fora do hospital, espiando as colinas verdes que o rodeavam, sentindo a vida passar e esperando mais esse dia chato acabar. Odeio essa monotonia!


Verão 2009/2010

Tambéns e porquês

por Ricardinho Sales
Cândido Portinari, "Os retirantes", 1939
(Sim, eles também sonham)


mas ninguém os percebe
ninguém parou pra ouvir
o que pensam 


(sim, eles também pensam)


e nem se preocupam em entender
quais as suas esperanças


(é, eles tem esperança sim)


e desdenham a todos
por falta de informação
dos sentimentos neles contidos


(podicrê, também rola sentimento neles)


apesar de que
tentam correr sempre atrás


(saíram atrasados, nunca correm na frente)


mas o atraso não foi culpa deles
mas desses que nunca os percebem


(que muitas vezes são vocês)


e o que é pior
nunca desacreditam
dessa vontade
de seguir essa jornada


(nasceram com ela)


pois quem nasce perdedor genuíno
não se conforma em ser derrotado
e briga de foice
pra matar a derrota
que é legítima,
essa que não escolheu


05/11/2010
01:08:47

sábado, 22 de janeiro de 2011

Estou junto com essa campanha! (De um email que circula na net)

Professor Raimundo já tinha falado, a gente não se ligou
"No futebol, o Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo e todos estão tristes. 
Na educação é o 85º e ninguém reclama..."

EU APOIO ESTA TROCA

TROQUE 01 PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES


O salário de 344 professores que ensinam = ao de 1 parlamentar que rouba
Essa é uma campanha que vale a pena! Repasso com solidária revolta!


Prezado amigo!

Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00


Professor é profissão desvalorizada
Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00. Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar? Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade! Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro!


Até o Professor Girafales fica indignado
Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano... São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545.
Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha Argentina R$1,3 milhões.

Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior !

Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será:

'TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES'.

Repassar esta mensagem é uma obrigação, é sinal de patriotismo, pois a vergonha que atualmente impera em nossa política está desmotivando o nosso povo e arruinando o nosso querido Brasil. É o mínimo que nós, patriotas, podemos fazer.

Minha correria

Photo Manipulations by Erik Johansson
Caminhos eu sei que já não há, mas o destino se encarregará disso. Por mais que se morra aos poucos, a vida faz com que o resto que falta nunca falte, mesmo aparentando o contrário. O mundo que gira comigo eu cria que girava ao meu redor e fui por um bom tempo cria dessa afirmação; quando a casa caiu na minha cabeça, espessa foi a dor que ainda hoje na dissipa. Bem menos do que muito e muito mais do que nada: isso é o que sobra de mim no momento, e o movimento imperceptível da rotação/translação tenta me tontear a todo custo, mas estou firme no meu propósito de ser eu, preso a mim. Não estou viajando, apenas traçando um raciocínio que possa servir como lógica para alguma coisa, coisa essa que nem sei. Se a onda me derrubar, eu levanto de pronto e rodo a baiana, pronto pra outra.

Vou sempre dar um passo à frente, mesmo à beira do abismo.

Da loucura que me alegam, me sobra a lucidez dos loucos. 

Em tempestade me materializo como a soma de todos o ângulos que me cercam e constroem esse corpo onde moro. Já me achei ridículo, mas isso são águas passadas. A bomba vem pra estourar na minha mão, mas na hora certa eu jogo longe, não passo adiante porque eu me garanto, saio vivo. Quanto aos outros, como sabê-lo?
Meus ombros estão prontos para receber mais carga: só arqueio a coluna quando formiga recusar trabalho. E mesmo nesse caso, adiarei ao máximo o momento de ceder.

11/08/06
21:15:17

Jogo do Muda - Cênikos Cínikos em Guaxupé (09/11/2010)

Náusea Lírica

E porque são folhas
em
branco
    soltas
e o papel aceita qualquer coisa
quando sente roçar a pena


Escrevo.


E porque são sentidos
em
suma
    soltos
e o viver necessita disso
para o mal e para o bem


Sinto.


E porque não pedi favor
em
nascer
    sorte?


Escrevo e sinto e vivo.


Outubro de 2007

Stand Up Comedy - Ricardinho Sales - Legendado

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Viver em festa (a que deu nome à coisa)



Se o pouco que temos
é tudo o que nos resta,
vivamos o momento, 
façamos a festa.

Se migalhas de sentimento
é o que a alma nos empresta,
vivamos o momento, 
façamos a festa.


Se a verdade que se apresenta,
aparenta ser a mais indigesta, 
vivamos o momento, 
façamos a festa.


Se o bem que pode ser feito, 
de nós se esconde e não se manifesta, 
vivamos o momento, 
façamos a festa.


Se a vida do jeito que vivemos, 
de repente parece que não presta, 
vivamos o momento, 
façamos a festa.


31/05/05
00:51:00